sábado, 23 de novembro de 2019

O ECONOMISTA LIBERAL INFILTRADO.



Como o Pastor Lisboa Marcos Lisboa foi parar na equipe econômica do PT?

Pega essa história maravilhosa...

 Muitas pessoas conhecem Marcos Lisboa pela sua atual presidência do Insper. Mas Lisboa tem uma participação fundamental nas eleições de 2002. Os principais candidatos a presidente eram, em ordem de sucesso nas urnas, Lula (PT), José Serra (PSDB), Garotinho (PSB) e Ciro Gomes.
 O PSDB estava coligado com o PMDB. Moreira Franco, então presidente da Fundação Ulysses Guimarães (braço programático do PMDB) encomendou a um grupo de economistas um conjunto de propostas para o programa de governo.
Dentre os economistas neste grupo, estava Marcos Lisboa.
 O documento foi apresentado ao candidato José Serra. Mas não rolou química, de nenhum dos lados!
Os economistas não saíram com boas impressões de Serra que chegou a dizer ao final do encontro a Moreira Franco: “Pô Wellington, como você gosta desse pessoal de direita!”
 Meses depois, Ciro Gomes entrou em contato com José Alexandre Scheinkman, então professor de Princeton (hoje em Columbia) e, sem dúvida, o economista brasileiro de maior impacto na comunidade acadêmica internacional. Scheinkman aceitou assessorá-lo e contatou Marcos Lisboa.
Dessa vez, Marcos disse que gostaria de elaborar um documento com diagnósticos sobre os problemas brasileiros e propostas de políticas, mas que gostaria que esse documento fosse distribuído aos assessores econômicos de todos os candidatos a presidente.
 Esse documento se chamaria “A Agenda Perdida: diagnósticos e propostas para a retomada do crescimento com maior justiça social”.
A Agenda Perdida seria coordenada e escrita por Alexandre Scheinkman e Marcos Lisboa com base em trabalhos e discussões com outros 17 economistas.
 Marcos Lisboa concluiu seu doutorado em economia pela Universidade da Pensilvânia em 1996 e foi contratado como professor pesquisador pelo departamento de economia da Universidade de Stanford. Essa é uma proeza ao alcance de muito poucos.
 Tipicamente, a cada ano, as universidades formam uns 15 PhDs em economia e contratam 1 ou 2.
Assim, de cada 10 pessoas que completam o PhD em uma universidade como Stanford, menos de uma irá conseguir um emprego como professor pesquisador num departamento desse nível.
 Sua estadia em Stanford, porém, seria curta. Marcos acabou escolhendo voltar ao Brasil depois de poucos anos e em 2002, atuava como professor da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro.
 No contexto do debate sobre políticas públicas brasileiras, Lisboa era e é um economista bastante liberal com uma visão moderna da economia.
A Agenda Perdida ecoava essa visão liberal. Em particular, as propostas realçavam a necessidade de melhorar o ambiente de negócios.
 As propostas de reforma tributária focavam na redução das distorções causadas pelos impostos.
A Agenda Perdida identificava impostos que reduziam os incentivos para a produção e as trocas. Falava também sobre a necessidade de diminuir o custo de abrir e fechar empresas.
 Para os mercados de crédito, Agenda Perdida realçava a importância de garantias rapidamente executáveis e de um sistema legal que garantisse os direitos dos credores.
Esse enfoque parece semelhante às importantes reformas no mercado de crédito adotadas em 2004. Por que será?
 No que tange o comércio internacional, o documento era favorável à abertura comercial e contrário a políticas desenvolvimentistas de substituição de importações.
As políticas monetária e fiscal deveriam buscar acabar com a instabilidade macroeconômica a fim de não atrapalhar o crescimento da economia.
Em suma, a visão liberal norteava as propostas da Agenda Perdida.
1Os planos do PT para a presidência tinham uma visão da economia completamente diferente.
Enquanto a Agenda Perdida propunha desatar as amarras que atrapalhavam os empreendedores, as resoluções do Encontro Nacional do PT em 2001 tinham como objetivo  “derrotar o liberalismo.
Lula foi por outro caminho e assinou a “Carta ao Povo Brasileiro”, divulgada em junho de 2002. A Carta era um manifesto de 4 páginas, um tanto vago sobre as ações que seriam tomadas, sem propostas detalhadas. Por meio dessa Carta, Lula prometia respeitar os contratos e obrigações do país (ou seja, pagar a dívida pública), prometia “preservar o superávit primário” para que isso fosse possível e afirmava o compromisso com o combate à inflação (mas quem diria o contrário?).
 A atenção que esses pontos receberam demonstra, mais que qualquer outra coisa, o tipo de dúvida que então pairava sobre as ações de um possível governo de Lula em 2003.
 De modo geral, a Carta ao Povo Brasileiro de fato apontava para uma transição tranquila e responsável. Contudo, o objetivo do novo governo seria “a superação do atual modelo”.
 Em princípio, isso pode significar qualquer coisa, mas considerando todos os outros documentos do PT, é impossível interpretar a Carta como uma proposta de aprofundamento de um modelo capitalista liberal.
Lula venceria a eleição e nomearia o médico e deputado eleito pelo PT Antonio Palocci como Ministro da Fazenda. Contudo, as ideias dos economistas do PT sobre a economia não entrariam no Ministério.
 Para a Secretaria de Política Econômica, Palocci chamaria Marcos Lisboa, que aceitaria o desafio.
Marcos, o economista liberal, era muito “de direita” para o candidato do PSDB e completamente antagônico às ideias dos economistas “de esquerda”.
Mas era a sua agenda que o Ministro Palocci buscava trazer para o Ministério da Fazenda.

Texto adaptado do livro A Riqueza das Nações do Século XXI de Bernardo Guimarães. Economista Pesquisador da EESP/FGV]







































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